Qual o sentido da vida em um mundo que parece não ter sentido?
Em algum momento da nossa existência – especialmente quando vivemos longe de casa, de tudo que é familiar – surge uma pergunta que pode ser silenciosa, mas poderosa: qual é o sentido disso tudo? A busca por sentido na vida, ainda mais intensa em contextos de mudança como a imigração, toca em algo profundamente humano. Contudo, e quando o mundo ao nosso redor parece indiferente, caótico ou até mesmo sem sentido? Como encontrar propósito diante da incerteza?
O Absurdo e o Confronto com a indiferença
Albert Camus, em sua obra O Estrangeiro, nos apresenta Meursault, um homem que vive a vida com indiferença: “para mim, tanto faz”. Através dele, Camus expõe uma realidade difícil de encarar – a do absurdo. Para ele, o absurdo nasce do confronto entre nossa necessidade de sentido e a aparente indiferença do mundo. Queremos respostas, mas o universo permanece em silêncio.
Essa tensão, embora desconfortável, é familiar para quem vive a experiência de sair do seu país, recomeçar em outro lugar, enfrentar perdas e reconstruções. Há um luto por tudo que ficou e, ao mesmo tempo, um vazio que clama por preenchimento.
Liberdade e Responsabilidade: A Tarefa de construir sentido
Irvin Yalom, psiquiatra existencial, afirma que o mundo é contingente – nada é pré-determinado, e tudo poderia ser diferente. Por isso, somos confrontados com uma liberdade radical: somos responsáveis por criar nosso próprio sentido.
No entanto, essa liberdade também pode assustar. Afinal, não há um roteiro pronto a seguir. Portanto, a construção de sentido exige comprometimento, uma postura ativa diante da vida. Não há garantias, mas há possibilidade. Como diz Yalom em Existential Psychotherapy, “o sujeito precisa criar seu próprio sentido e se comprometer no preenchimento dele”.
Sentido Cósmico e Sentido Terreno: Dois níveis, uma busca
Yalom diferencia dois níveis de sentido:
- Sentido Cósmico: ligado à transcendência, espiritualidade e perguntas como “qual o sentido da vida?”
- Sentido Terreno: mais concreto, relacionado ao propósito individual, à pergunta “qual o sentido da minha vida?”
Muitas pessoas buscam conforto em um sentido cósmico, acreditando que há um plano superior, uma ordem. Outras, especialmente em um mundo cada vez mais secular, se veem desafiadas a criar um sentido terreno, sem recorrer a explicações transcendentais.
Curiosamente, quem encontra sentido cósmico geralmente também experimenta um sentido terreno correspondente. Ainda assim, nem todos sentem essa conexão automática – e tudo bem. A busca é pessoal, subjetiva, e válida em qualquer forma.
Quando falta sentido, dói
Viver sem sentido, sem objetivos ou valores pode gerar sofrimento profundo. Em casos severos, essa falta pode até levar ao suicídio. Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, relata em seu livro Em Busca de Sentido que a capacidade de encontrar significado no sofrimento foi o que o manteve vivo enquanto estava no campo de concentração.
Além disso, o sofrimento, por mais paradoxal que pareça, pode nos mover a questionar, buscar e criar um novo sentido. Essa é uma das forças transformadoras da dor.
Fontes de sentido da vida em um mundo secular
Mesmo sem recorrer à espiritualidade ou religião, muitas pessoas encontram propósito em atividades auto-transcendentes, como:
- Dedicação a uma causa
- Criatividade
- Altruísmo
E também em atividades auto-referentes, como:
- Hedonismo (o prazer como sentido)
- Aperfeiçoamento pessoal
Portanto, não há certo ou errado – cada pessoa encontra sentido em lugares distintos. O importante é que essa busca seja autêntica e ressoe com quem você é.
Narrativas de Sentido: Histórias que contam e curam
Na dor, muitas vezes criamos narrativas que dão sentido ao que parece ilógico. Por exemplo, uma pessoa diz: “Ele sabia que eu gostava do outono e esperou o inverno para partir. Ele me deu esse presente.” Outra afirma: “Deus me deu uma nova chance com o meu pai.” Essas narrativas não precisam ser verdadeiras no sentido factual, mas são verdadeiras emocionalmente.
Ou seja, elas nos ajudam a sobreviver, a seguir, a transformar a dor em algo que possa ser vivido. E isso é essencial.
E Você? Qual o sentido da sua vida?
Essa pergunta pode soar grandiosa, mas talvez ela seja mais simples do que parece. Não exige respostas prontas, e sim, uma escuta interna. Onde você encontra significado? Em que momentos você sente que está vivendo algo com propósito? Que valores te movem?
A resposta pode estar em gestos pequenos: cuidar de alguém, criar algo, estar presente. Ou pode estar em um projeto maior, em algo que te ultrapassa.
Por fim, a busca por sentido é uma jornada contínua, especialmente para quem vive entre mundos, como os imigrantes. Mas é uma busca que nos humaniza, nos conecta e nos dá chão para seguir, mesmo em meio ao absurdo.
Quer refletir mais profundamente sobre seu propósito ou busca por pertencimento? A psicoterapia pode ser um espaço acolhedor para isso. Vamos conversar?
Recursos de Apoio:
- CVV – Centro de Valorização da Vida (apoio emocional gratuito e sigiloso)
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